Rua do Giz. Foto: Douglas Júnior

Por: Douglas Cunha

São Luís é uma cidade “quatrocentona” que respira e inspira poesias por todos os cantos. Suas ruas e becos, alguns com nomes bem pitorescos e até mesmo irreverentes, embalam a lira dos nossos menestréis, inspirando nossos poetas a cantar e louvar esta cidade, ratificando o seu eterno amor pela terra-mãe.  

A fundação da cidade se deu em 8 de setembro de 1612. Localizada entre as baías de São Marcos e São José de Ribamar, na ilha Upaon-Açu, denominação que significa Ilha Grande – dada pelos índios tupinambás – São Luís é a única cidade do Brasil que foi fundada por franceses. Surgiu da tentativa francesa de criar a França Equinocial e o líder da expedição que fundou a cidade foi Daniel de La Touche, conhecido como “Senhor de La Ravardiére”. Posteriormente, São Luís foi invadida por holandeses que foram expulsos pelos portugueses que a colonizaram.

São Luís nasceu a partir da construção do Forte Saint Louis, edificado de forma rudimentar, de pau a pique e coberto de palhas, sendo destruído com o passar do tempo.

Conforme o historiador Euges Lima, das edificações erguidas no entorno do forte, a cidade se estendeu para o Adro do Carmo e deu origem aos três caminhos grandes, que depois viraram Rua do Sol, Rua da Paz e Rua Grande.  A cidade começou a se organizar com a chegada do engenheiro-mór Francisco de Mesquita que fez o projeto da cidade, se iniciando pela avenida Pedro II  estendendo-se pela Praça João Lisboa  e o Adro do Carmo, expandindo-se pela Rua Grande, Rua do Sol e Rua da Paz.

O engenheiro-mor Francisco de Mesquita, que veio junto com as tropas de Jerônimo de Albuquerque, realizou o projeto da cidade fazendo o traçado de ruas, becos, largos e logradouros diversos.

Então a cidade se expandiu e surgiram os bairros. Uma toponímia bem diversificada foi adotada para a identificação, mas com o passar do tempo, a população adotou outros nomes. Os mais antigos remetem, então, à São Luís colonial e nomes de suas ruas, perduram.

RUA DOS AFOGADOS

Rua dos Afogados. Foto: Douglas Júnior

No início do Século XX a municipalidade resolveu mudar os nomes das ruas para homenagear suas personalidades. Assim, a Rua dos Afogados, que já era conhecida como Rua da Viola ou Rua do Afoga bugios, virou rua José Bonifácio, em homenagem ao grande defensor do fim da escravatura e da proclamação da República.

RUA DO SOL

Rua do Sol. Foto: Douglas Júnior

A Rua do Sol passou para Nina Rodrigues, com a morte do médico maranhense em Salvador-Bahia, para onde foi depois de ter sido hostilizado pela sociedade local, por defender o valor nutritivo da farinha de mandioca. Ao voltar para Salvador, se destacou por implantar a cadeira de Medicina Legal na Universidade Federal.

RUA DO GIZ

Rua do Giz. Foto: Douglas Júnior

A Rua Giz, que ganhou este nome em face de ser longa estreita e ter na sua pista de rolamento, em face da ausência de pavimentação, uma argila esbranquiçada, tipo tabatinga.  que se parecia com giz, passou a ser chamada de 28 de julho, em referência à data da adesão do Maranhão à independência do Brasil. Esta rua, assim como a Rua da Palma e suas transversais, celebrizou-se no século vinte por ser a zona do meretrício.

RUA DA PALMA

Rua da Palma. Foto: Douglas Júnior

A Rua da Palma passou a ser chamada de rua Herculano Parga, político brasileiro que governou o Maranhão de 1914 a 1918, substituindo Luís Domingues. A Rua da Estrela virou rua Cândido Mendes e a Rua Direita passou a ser chamada Henriques Leal.

Nos anos 50 ocorreu nova mudança na nomenclatura das ruas e assim, todas as ruas da cidade chegam a ter até quatro nomes, visto que a população não deixou de chamá-las pelos nomes antigos. 

Rua da Estrela. Foto: Douglas Júnior

RUA AFONSO PENA

Rua Afonso Pena. Foto: Douglas Júnior

A origem deste nome deu-se em homenagem à beleza do local. Também ficou conhecida como Estrada Real, por ser uma rua longa. Recebeu o nome de Rua Afonso Pena. Inicia-se nas proximidades do Largo do Carmo e segue até a Rua do Portinho. Esta teria sido a primeira a receber calçamento de cantaria “cabeça-de-negro”.

PRAÇA DA ALEGRIA

Este logradouro era conhecido como Praça da Forca, visto que ali eram executados os delinquentes condenados à morte, notadamente os escravos. Depois passou a ter a denominação de Largo da Forca. Com o fim da pena capital, o largo perdeu sua função e passou a ser chamado Largo da Forca Velha e por fim Praça da Alegria, numa tentativa de amenizar o estigma de tristeza que ela inspirava na população.

IRREVERENTES & PITORESCOS

A irreverência mais efetiva, se observa nas denominações dos becos, que também possuem vários nomes, mas continuam sendo identificados pelos que foram adotados e usados pela população de gerações anteriores.

BECO DA BOSTA

O Beco da Bosta tem este nome por ser o caminho por onde passavam os negros escravos, conduzindo tonéis de excrementos de seus senhores, que eram despejados na maré, na Praia do Caju. Este era o único meio de fazer despejos, já que São Luís à época, não possuía rede de esgotos. Estes escravos eram também chamados de cabungos ou tigres, pelo fato de os excrementos escorrerem pelos seus corpos produzindo manchas amareladas.

Já foi chamado também de Beco do Zé Coxo, Beco da Baronesa e depois a denominação de Travessa 28 de Setembro, em referência à data da sanção da Lei do Ventre Livre, promulgada em 1817, quando então foram considerados livres os filhos das mulheres escravas nascidos a partir daquela data.

No prédio onde funciona o Centro de Artes Cênicas do Maranhão (Cacem), situado na esquina, morou a Baronesa de São Bento, daí o chamarem também de Beco da Baronesa.

BECO DA PACOTILHA

Beco da Pacotilha. Foto: Douglas Junior

Esta denominação é antiga, dada à rua estreita que se inicia na Praça João Lisboa e se estende até à Rua da Estrela, na Praia Grande. Recebeu os nomes de Beco do Quebra Costas e de Beco da Pacotilha, em alusão a um jornal vespertino editado pelos Diários Associados, cujo prédio onde também funcionou o jornal O IMPARCIAL, fica nas proximidades. Recebeu o nome de Rua João Victal de Mattos, em homenagem a um conceituado farmacêutico estabelecido na esquina daquela rua com a Rua da Palma. No Bairro do Lira tem um beco com o mesmo nome, ligando a Rua Branca à Rua Creme (Ladeira do Quebra Bunda).

BECO DA CAÉLA

Este logradouro fica localizado no Bairro do Desterro. A origem do seu nome é controversa. Consta que vivia ali um português que gostava muito de crianças e que ao ver passar alguém conduzindo uma, não se continha e pedia: “Dê-me cá, ela!”.

Populares aproveitaram a cacofonia e nominaram o logradouro de Beco da Caéla. Que começa no Anel Viário e se estende até à rua Afonso Pena (Formosa), onde à época era grande um lamaçal.  Recebeu o nome atual de Maranhão Sobrinho, em homenagem ao festejado poeta.

BECO DO CAGA OSSO

Este beco também está localizado no Desterro. Se inicia na Praça das Mercês (em construção) e se estende até à Rua Formosa (Afonso Pena), ficando sua parte mais estreita, ao lado do Convento das Mercês. Esta denominação tem duas histórias. A primeira é de que na região morava um italiano chamado Cagliostro e os nativos que não conseguiam pronunciar o seu nome, resolveram adotar a corruptela de Caga Osso.

Uma outra versão dá conta que um português ali residente, teria comido algo, engolido alguns ossos de pequeno porte e teve um desarranjo intestinal, que lhe causara forte diarréia, o obrigando a ir muitas vezes ao mangue, sendo observado por populares que diziam- “lá vai o caga osso”, e assim passaram a denominar o logradouro.

BECO DA CATARINA MINA

Beco Catarina Mina. Foto: Douglas Júnior

O Beco Catarina Mina, foi conhecido como Ladeira da Calçada, Rua da Calçada e atualmente Rua Djalma Dutra. Começa na Avenida Pedro II (Largo do Palácio) bem onde estão sediados o Banco da Amazonia e Bradesco e termina na travessa da Alfândega (Rua João Gualberto), nos muros da Câmara Municipal. O beco tem 35 degraus em pedras Lioz e cantaria do século XVII.
Consta que tem esse nome porque ali morava a escrava Catarina Rosa Ferreira de Jesus, que conseguiu reunir fortuna e comprou sua liberdade, tornando-se senhora de escravos e proprietária de vários imóveis na região central da cidade. Consta ainda que o casarão onde funciona a Casa de Cultura Huguenote Daniel de La Touche, inaugurada em 8 de setembro de 2014, pertenceu a Catarina Mina.

BECO DA PRENSA

O Beco da Prensa é a continuação da Rua 14 de Julho, na sua parte mais estreita. A rua se inicia na esquina com a Rua Formosa (Afonso Pena) e se estende até à Rua da Estrela, onde se inicia a parte mais estreita e recebe o nome de Beco da Prensa indo até ao Anel Viário.

A história conta que recebeu o nome de Beco da Prensa em face do empresário João Gualberto da Costa ter instalado em um prédio daquele logradouro, a primeira prensa de algodão da cidade. Consta ainda que num sobrado daquele beco, a lendária Dona Ana Jansen mantinha seus escravos.

BECO DO JAÚ

Este beco se inicia na Rua de São João, na esquina do prédio do Centro Artístico Operário indo até à Avenida Beira- Mar. Tem também o nome de Beco do Prego, em função de haver ali um serralheiro que tinha o apelido de prego, sendo muito conhecido na cidade, e emprestou seu pseudônimo para o logradouro. A denominação Beco do Jaú, pelo fato de ser muito antigo, não tem registro sobre o que motivou a denominação.

BECO DO PRECIPÍCIO

O Beco do Precipício também fica no Bairro do Desterro, ao lado da igreja. Este beco recebeu a denominação pelo fato de ser muito íngreme, não remetendo ao pecado. Antes de ser construída a escadaria, os incautos que por ali transitavam, por qualquer descuido sofriam quedas e rolavam ladeira abaixo.

Muitos outros becos existem pela cidade como o Beco Escuro ligando a Rua da Cruz à Avenida Magalhães de Almeida. Beco da Panaca, Beco da Alfândega, Beco Novo, na Praia Grande. E outros na parte mais nova da cidade.

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